Faz um tempão que não trago um xeretando para cá, né? Mas cá estou eu, tirando poeira dessa coluna, com o cantinho da Marcela. Não é um cômodo inteiro, muito menos uma casa inteira, mas nem por isso, menos carregado de história, sentimento. Aqui tudo tem um porque.
Eu conheci a Marcela no ambiente de trabalho.Ela é arquivista, eu sou museóloga, e muitas vezes nossos trabalhos se complementam.
Ela saiu de casa - e da cidade natal - há alguns anos e divide um apê com outras meninas. Ou seja, ela não tem uma casa para chamar só de sua. Mas, como ela mostra no relato a seguir, é sempre possível ter um canto só seu, com uma decoração só sua, com os seus gostos e histórias.
Para o relato fazer mais sentido, eis algumas observações:
- Um dia, a Marcela me mostrou uma foto do jarrinho com os chips, eu achei tão inspirador e perguntei se ela me mandava a foto para postar no instagram do blog. Isso foi antes dela me contar a história toda.
- IMS = Instituto Moreira Salles.
- A Marcela hoje atua como arquivista, mas também é formada em História.
"Ju,
quando você me pediu para mandar essa foto
do jarrinho para colocar como inspiração no instagram @casadeamados percebi que não
só o jarrinho, mas tudo ali é uma lembrança, uma inspiração, um
significado.
A mesa cromada adquiri a uns 4 anos
para substituir uma escrivaninha de madeira trazida da casa dos meus pais.
Consegui comprar numa promoção ponto vermelho da Tokstok por uns 200,00. Ela já
não está tão cromada assim, um dos contras de morar no litoral, mas atende bem
as minhas necessidades, ocupa pouco espaço além da mobilidade (sim, ela tem
rodinhas!!!!).
Também a uns 4 anos adquiri a mug (que
ainda pode ser encontrada no site do IMS), que serve de porta
lápis, canetas e outros cacarecos. Por causa do trabalho li boa parte da
obra de Rachel de Queiroz (1910-2003). A caricatura na mug é
referente ao “O Quinze”, primeiro livro de Rachel de Queiroz.
O par de bibliocantos em madeira, encontrei
nas minhas primeiras andanças em Petrópolis, em 2011. Um achado numa loja de
móveis por 10,00 o par se não me engano! Os cactos me remeteram aos quadros
Abaporu (1928), Antropofagia (1929) de Tarsila do Amaral. Meu primeiro contato
com as obras de Tarsila foi ainda no Ensino Médio nas aulas de Literatura e
História do Brasil ...fundamentais na minha formação e nas minhas escolhas
profissionais.
O porta copos, foi um presente
seu, é a Audrey Hepburn (divaaa!!!!) e Humphrey
Bogart, acho que no filme Sabrina (1954). A rosinha de tecido foi um
presente de uma colega de trabalho, o caule é um lápis. Os livros que ficam ali
são os lidos recentemente ou na fila de espera para serem lidos e relidos como
o “Bordados” da Marjane Satrapi! Mais uma lembrança: descobri essa autora
estudando na internet para os testes de francês e virei fã, tenho todos os
quadrinhos lançados no Brasil!
O jarrinho de vidro reciclado comprei recentemente
por uns 4,00 numa dessas lojas gigantes de "a partir de 1,99" onde se
encontra toda a sorte de utilidades e inutilidades e não se sai de mãos
abanando. Comprei especialmente para colocar essas coisinhas laranjas! O que
são e para que serviram? São chips de código do glicosímetro que uso. Cada um
codificou em números, num intervalo de 15 a 20 dias, o sobe e desce da minha
glicemia nos últimos, e completos em novembro, 7 anos.
Glicosímetro |
Ali só tem alguns chips, muitos estão
espalhados nas gavetas, potes, bolsas, nécessaires...ou se perderam. O que eles
significam para mim? O que vejo quando os vejo? Vejo o registro das
reações silenciosas do meu corpo a tudo que senti, ouvi ou vivenciei
diariamente nestes 7 anos: alegrias, incertezas, satisfação, tristeza,
disciplina, entusiasmo, esforço, prazer....a consciência dos pecados capitais
cometidos: ira, gula, preguiça, gula, avareza, gula... muita gula!!!!
Não sei precisar qual ali é o primeiro,
enviado por correio pelos meus familiares ou qual daqueles ali do meio
registrou a hora, dia e mês dos meus sorrisos mais sinceros, meus olhares mais
fulminantes, meu pior medo, meu mais intenso prazer, as reações diante das
vitórias e decepções... Sei apenas que são testemunhos codificados do
inevitável litígio entre a memória, o esquecimento e o tempo que
resignificam as lembranças quando não as simplesmente apagam. O que preço pago
pelos chips: incomensurável!"
O objetivo desse post é mostrar que você não precisa esperar ter uma casa só sua para refletir suas memórias e sua personalidade no seu lar. Pode ser uma cama, uma escrivaninha, mas todo mundo tem algum canto, por menor que seja. Transforme esse canto qualquer num LAR.
Do que vocês mais gostaram? Contem pra gente!
Quer ver sua casa, seu cantinho por aqui? É só escrever para juliamado@gmail.com
*Todas as fotos deste post são da Marcela. Eu apenas coloquei o título da postagem na primeira foto.
** Algumas marcas/ lojas foram citadas, mas este post não é um publieditorial.
Achei uma gracinha este porta -livros de mandacaru...
ResponderExcluirBeijocas
Eu também! São muito fofos, né?
ExcluirBeijos!
Olá Juliana, muito interessante este post, há um mundo de histórias em cima dessa mesinha de estudos. Bem mais do que pode parecer à primeira vista. Bj
ResponderExcluirNum é? Eu adorei exatamente isso, esse mundo de histórias. Por isso, o que era para ser apenas uma postagem no instagram, virou uma postagem aqui no blog.
ExcluirBeijos
Olá Jú! Eu amei esse cantinho da Marcela, super organizado e criativo. Eu amei os cactos, principalmente depois de saber que foram baratinhos e tiveram ligação com a escolha de um futuro! hahah. Demais! Adoro itens que contam histórias! Amei
ResponderExcluirBeijão!
Thamyrez.
A Marcela é super organizada e isso naturalmente, reflete no espaço. Também acho os cactos muito fofos. Itens que contam histórias são demais, né? Deixam a nossa casa com a nossa cara!
ExcluirBeijos
Meu Deus que post lindo!
ResponderExcluirAdorei ver que a decor tem um significado por trás e as dicas dos livros, mas confesso, com mãe de um diabético, a histórias por trás dos chips tocou meu coração, ou melhor, o nosso, pois acabei de ler o post para o meu Tonico e desabei. Não de tristeza, mas por perceber a força da Marcela diante da DM.
Um beijo nas duas.